Resumo Clínico Principal: Iniciando um Tratamento da Obesidade em Conformidade com as Diretrizes
Este é um resumo de microaprendizagem da sessão da Dra. Sue Pedersen, que você pode encontrar aqui. Antes de participar, leia nossas informações de CME e de divulgação de conflitos de interesse, disponíveis aqui.
Agradecimento: Esta atividade é apoiada por uma bolsa educacional médica independente da Lilly. Este programa de educação on-line foi desenvolvido para profissionais de saúde em todo o mundo.
Introdução
Iniciar um cuidado da obesidade baseado em evidências requer empatia, estrutura e alinhamento com diretrizes contemporâneas. Este resumo descreve como abrir a conversa de forma respeitosa, avaliar a obesidade além do IMC, selecionar uma terapia personalizada — incluindo farmacoterapia — e planejar um acompanhamento que favoreça o sucesso a longo prazo.
Estudo de Caso: Maria
Maria, 45 anos, procura atendimento após um resultado de pré-diabetes. Ela apresenta obesidade, histórico de depressão leve bem controlada e experiências negativas anteriores ao discutir peso. Sua avaliação: IMC 35, circunferência da cintura 105 cm, relação cintura–altura 0,6, pressão arterial normal, HbA1c 6,3%.
Iniciando a Conversação: Permissão e Compaixão
A empatia é fundamental. Pedir permissão é o momento em que a paciente avalia a segurança da situação. Esse passo simples cria confiança, reduz o estigma e reconhece a experiência vivida da paciente. Quando convidada a compartilhar, Maria relatou que suas dificuldades com o peso começaram após o parto e que anos de críticas — em casa e no ambiente de saúde — a deixaram envergonhada e relutante em se envolver. Esse peso emocional influencia a relação clínica e deve ser integrado ao cuidado.
Os 5 As do manejo da obesidade oferecem uma abordagem estruturada:
- Ask (Pedir permissão): promove empatia e confiança.
- Assess (Avaliar a história): explorar objetivos, histórico, fatores contribuintes e classificação (IMC + medidas de cintura).
- Advise (Aconselhar sobre o manejo): discutir opções baseadas em evidências, como terapia nutricional, atividade física, apoio psicológico, medicamentos ou cirurgia.
- Agree (Acordar metas): co-criar um plano personalizado e sustentável.
- Assist (Ajudar com facilitadores e barreiras): apoiar mudanças de longo prazo.
Avaliação Abrangente: Além do IMC
A avaliação é tanto clínica quanto emocional. A história de Maria reflete padrões comuns da obesidade crônica: ganho de peso pós-parto, fadiga, pouco apoio e estigma internalizado — fatores tão relevantes quanto exames laboratoriais.
Uma anamnese completa centrada na obesidade deve incluir trajetória de peso, hábitos de nutrição/atividade, saúde mental, sono, uso de substâncias, medicamentos e contexto social. O Modelo dos 4 Ms ajuda a estruturar essa avaliação:
- Metabólico: DM2, dislipidemia, hipertensão, MASLD, doença cardiovascular.
- Mecânico: apneia obstrutiva do sono, osteoartrite, refluxo GI, fascite plantar, dor em membros inferiores.
- Saúde mental: humor/ansiedade, rastreio para depressão, autoestima, estigma internalizado, uso de substâncias.
- Meio monetário/social: nível socioeconômico, demandas de trabalho, acesso a alimentos saudáveis, limitações de tempo, cuidados infantis, acesso ao sistema de saúde.
O perfil de Maria se encaixa claramente nesse modelo: risco metabólico (pré-diabetes), componentes mecânicos (adiposidade central), histórico de saúde mental (depressão tratada, vergonha internalizada) e pressões sociais (críticas familiares, pouco apoio).
Ensaios clínicos frequentemente usam IMC para definir obesidade, mas o IMC isoladamente é insuficiente; a avaliação deve incluir sinais vitais e medidas antropométricas envolvendo cabeça e pescoço, sistemas cardiorrespiratório, gastrointestinal, musculoesquelético, pele e membros inferiores. As diretrizes recomendam integrar circunferência da cintura, relação cintura–altura e relação cintura–quadril, que refletem melhor a adiposidade visceral e seu risco cardiometabólico correlato. A relação cintura–altura de 0,6 em Maria reforça seu risco metabólico elevado.
Orientação Terapêutica: Os Três Pilares da Terapia da Obesidade
A maioria das pessoas não consegue alcançar ou manter uma perda de peso significativa apenas com mudanças no estilo de vida — isso reflete biologia, não força de vontade.
A terapia baseada em diretrizes se apoia em três pilares:
- Intervenções psicológicas/comportamentais: reestruturação cognitiva, substituição comportamental, automonitoramento, controle de estímulos, resolução de problemas, definição de metas, otimização do sono e manejo do estresse/tempo.
- Farmacoterapia: apoia a redução de peso, melhora comorbidades e aumenta a adesão.
- Cirurgia metabólica/bariátrica: para candidatos apropriados.
Intervenções de estilo de vida permanecem essenciais, mas complementares. Diversos padrões alimentares (por exemplo, mediterrâneo, baixo índice glicêmico) reduzem risco, mas são difíceis de manter a longo prazo. A atividade física melhora a saúde cardiometabólica mesmo sem perda de peso. A terapia psicológica fornece ferramentas estruturadas para ajudar o paciente a lidar com gatilhos, remodelar hábitos e otimizar sono, tempo e estresse.
Por que usar medicamentos?
A evidência destaca dois motivos principais. Primeiro, mudanças comportamentais isoladas raramente produzem perda de peso durável e clinicamente significativa. Além disso, a farmacoterapia melhora tanto o peso quanto a saúde metabólica, ao mesmo tempo em que sustenta as mudanças comportamentais.
Farmacoterapia: Uma Abordagem Estruturada e Baseada em Metas
A Ferramenta de Decisão para Farmacoterapia da Obesity Canada segue um raciocínio clínico padrão:
- Definir metas: perda de peso, manutenção e/ou melhoria de condições relacionadas.
- Avaliar obesidade monogênica/sindrômica em casos de obesidade grave de início precoce com hiperfagia.
- Selecionar entre os medicamentos aprovados considerando contraindicações, preferências, acesso, custo e resultados desejados.
- Iniciar e titular para otimizar eficácia e tolerabilidade.
- Reavaliar regularmente: continuar o tratamento a longo prazo no “melhor peso”, ou revisar fatores contribuintes e considerar ajustes/combinação terapêutica.
Usando a Tabela de Decisão na Prática
Tabelas de decisão alinham os principais medicamentos antiobesidade com seus benefícios demonstrados em resultados cardiometabólicos, mecânicos e autorrelatados pelo paciente.
Para Maria, que apresenta obesidade e pré-diabetes, terapias baseadas em GLP e orlistate têm benefício comprovado. A escolha depende de suas metas (incluindo magnitude desejada de perda de peso), preferências, acesso e tolerabilidade. Uma tabela de decisão ajuda o clínico a combinar o perfil do medicamento com as necessidades clínicas individuais, fundamentando a decisão na evidência.
Conclusão
O cuidado da obesidade em conformidade com as diretrizes deve ser empático, personalizado e baseado nos três pilares da terapia. A avaliação deve ir além do IMC; o tratamento deve se alinhar à evidência e às prioridades do paciente; e o sucesso duradouro requer seguimento estruturado e parceria contínua.